Ouvir como base da SABEDORIA – FORÇA – BELEZA





Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.(Rubem Alves)

Adquirir a arte de ouvir é o primeiro sinal de que caminhamos em direção à sabedoria. Há mais conteúdo e simbolismo nesta virtude que o simples fato de saber. Os verdadeiramente sábios, têm a palavra como uma pedra preciosa, que não pode ser esbanjada e que vem sendo lapidada pelo tempo. Sabedoria traz embutida a justiça, a tolerância, a humildade, a compreensão, sem contudo, deixar de se expressar em decisões firmes. Sabedoria é também errar e admitir o erro, é ter uma proposta de emenda, de atenção, de consciência de sua própria humanidade – a despeito das boas intenções. Pode parecer paradoxal, mas a arte de ouvir, nasce do silêncio. É necessário silenciar os ruídos interiores e a tagarelice, para ouvir o que o outro tem a me dizer. Cessar os ruídos interiores, não quer dizer para não ouvir a voz interior. Até essa voz que vem de dentro, para ser ouvida, precisa do silêncio. É no silêncio que a palavra do poeta toma forma. Inclusive, foi no silêncio que me sentei diante do computador, na tentativa de partilhar com vocês.

Gosto muito daquela história dos dois velhinhos que se visitam toda semana, ficam horas juntos e não dizem uma só palavra, não porque não têm o que dizer, mas porque o que trazem para a partilha não cabe em palavras. A magia do poeta está nos intervalos silenciosos que há entre as suas palavras. É nesse silêncio que se ouve a melodia que não há. Não é tão difícil entender que as pessoas não aprenderam a ouvir e, menos ainda, a falar de outra coisa que não seja de si próprias. O olhar reflexivo só tem serventia se for usado como espelho, para clarear a caminhada interna. O mundo quer falar. Todo mundo quer falar. Mas será essa a verdade? Será que o mundo não quer ser ouvido? A sabedoria reside na inversão dessa afirmativa. Na realidade, todo mundo quer ser ouvido. A arte de ouvir, o silêncio, é o primeiro requisito para a aprendizagem. Um escritor por exemplo, que vive de palavras, mas que entende que elas são apenas guias para ouvir o silêncio.

sabedoria, que começa com o saber ouvir, está relacionada à reflexão, reserva, discrição, paciência e é representada pelo princípio feminino, receptivo, materno e, como tudo, dual/binário. Equivale a conflito no sentido de rompimento com a unidade. Representa, portanto, a primeira etapa dolorosa e imprescindível do aprendiz. É o começo da busca de identidade, do equilíbrio, que a repartição elementar das forças produz no conflito. Simplificando ainda mais, é o reconhecimento prévio da luta entre a luz e a sombra. 

O ponto de reflexão fica exatamente na compreensão da sabedoria e no objetivo de ser mestre da própria vida. Na regência e conciliação competente de todo antagonismo. É caminhar de forma segura, com diplomacia e tato para liderar e governar.

As conquistas reais e verdadeiras não são conquistadas pela força bruta, pelo poder apenas. A legitimidade da força é muito mais precisa e contagiosa quando a exercitamos com o silênciosabedoria e beleza. Por isso a força também é simbolizada por uma mulher – a palavra é feminina – que por sua fragilidade física é como se sua presença fosse uma lembrança que a virtude está na força moral, na autodisciplina e na coragem.

É obrigação do ser humano buscar a felicidade. A felicidade não está em cumprir o padrão, nascer, crescer, estudar, trabalhar, casar, ter filhos, acumular riquezas, morrer. Muitas vezes a felicidade está na compreensão e visão da beleza da vida. Para aprender a viver é necessário romper velhos hábitos, renovar ideias, total ou parcial, na certeza de que tudo se transforma, como um fenômeno catalisador ou um corpo novo que modifica totalmente a ação do corpo atual.

Concluindo, hoje apoio-me no tripé – sabedoria, força e beleza e atrevo-me a dizer que só conseguimos ter a unidade ternária presente em nossas vidas de forma concreta, através do silêncio, com a perspectiva de que essa simbologia, todas representadas pela sensibilidade e delicadeza do poder feminino, sirva de base para o fortalecimento da família e das relações humanas, como resultado direto dos valores que cultivamos.

Para mim, DEUS é a BELEZA que se ouve no SILÊNCIO, nos fortalecendo em SABEDORIA e FORÇA moral .

 

RCG 

10/09/2019




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