Respeito Inibor

“Respeito inibidor” talvez seja um bom nome para uma atitude que vem dominando cada vez mais o pensamento coletivo, um certo imaginário consensual que invade a mente das pessoas. Amizades, relações profissionais e amorosas, todas com respeito inibidor! Podemos reconhecer essa postura toda vez que uma pessoa, em um debate qualquer, diz: “eu tenho a minha opinião, você tem a sua”.



Nas nossas profissões, por exemplo, chegamos a um tal respeito pelo outro, que não se ousa mais quase tocá-lo. “Respeite-me” transforma-se em “aceite-me como eu sou”, “não me peça nada”, “não me empurre”, “deixe-me onde estou com aqueles que se parecem comigo”, “ame-me, mas como eu sou”. “Você me deve respeito” parece finalmente significar: “Eu sou suficiente, e meu encontro com você não mudará nada do que eu sou”. Se lhe devemos respeito, podemos então exigir dele alguma coisa, impor-lhe o que ele não quer à primeira vista? Se sentimos como violência tudo aquilo que não entra em nosso mundo, e vice-versa, então é o fim do encontro. Mas no fundo o que permite crescer, aprender? É o fato de ser empurrado, desencaminhado, puxado para fora de si mesmo, ser seduzido pelo que não se é? [...]
Tornamo-nos friorentos, tomados de uma lógica de segurança. Mas não existe vida sem risco, vida sem morte, não existe si mesmo sem o outro, não existe paz sem confrontação. Não existe vida sem escuta arriscada, ou seja, uma escuta na qual corremos riscos também, o de nos encontrar outro, que nossa identidade rache. Correr riscos para si é se deixar afetar pelo outro, e não manter distância, protegido por nosso saber.
Somos convidados a mobilizar os contrários, e não querer expulsar um deles em proveito do outro. A partir disso, não podemos nos esquivar nem da escuta, nem do conflito, nem da questão lancinante do “quando somos benéficos, e quando não o somos mais?” Não nos livraremos jamais de tais questões, e felizmente.

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