Espiritualidade Humana - Sem Dogma e Secular

"A espiritualidade assume muitas formas e todas elas não encaram da mesma forma o erro e a imperfeição. Mas através dos séculos um tema recorrente emergiu, um que é mais sensível às preocupações terrenas do que às experiências celestiais. Esta espiritualidade - a da imperfeição - tem milhares de anos e ao mesmo tempo ela é intemporal, eterna e continua. Pois diz respeito aquilo que no ser humano é irrevogável e inevitável: a imperfeição essencial, as falhas básicas e inerentes ao ser humano. Erros claro são parte do jogo. São parte da nossa verdade como seres humanos. Negar os nossos erros é negar-nós a nós próprios, porque ser humano é ser imperfeito, de algum modo propenso ao erro. Ser humano é fazer perguntas para as quais não há resposta, persistindo em fazê-las; é sentir-se destroçado e desejar sentir-se completo; é sentir dor e tentar encontrar uma cura através da dor. Ser humano é estar imbuído de um paradoxo, já que de acordo com esta visão ancestral nós somos menos que os deuses e mais do que os animais, todavia somos ambos. Nós não somos tudo mas também não somos nada. A espiritualidade é descoberta nesse espaço entre os dois extremos deste paradoxo. Porque aí confrontamos a nossa fragilidade e impotência, a nossa vulnerabilidade magoada. Na procura das nossas limitações procuramos não só o alívio da nossa dor mas também um entendimento do que é que significa sofrer e o que é que significa ser reparado. A espiritualidade começa com a aceitação que o nosso ser destroçado, a nossa imperfeição, simplesmente é. Não há que culpar ninguém pelos nossos erros - nem nós próprios, nem ninguém, nem algo. A espiritualidade ajuda-nos a primeiro ver e depois compreender e eventualmente aceitar a imperfeição que reside no âmago do nosso ser humano. A espiritualidade aceita que se uma coisa vale a pena ser feita, é correcto fazê-la mesmo de uma forma errada..."




"A espiritualidade da imperfeição dirige-se àqueles que procuram significado no absurdo, paz no caos, luz na escuridão, alegria no sofrimento sem negar a realidade e até mesmo a necessidade do absurdo, do caos, da escuridão e do sofrimento. Esta não é a espiritualidade de santos ou deuses, mas é para aqueles que sofrem do que o filósofo e psicólogo William James classificou de "pessoas destroçadas".
Todos nós conhecemos essa experiência, porque ser humano é por vezes sentir-se dividido, fracturado e puxado numa dúzia de direcções...e desejar por alguma serenidade, por alguma reparação dos nossos destroços..."

"A espiritualidade da imperfeição sugere que há algo de errado - comigo, contigo, com o mundo - mas que não há nada de errado com isso porque essa é a natureza da nossa realidade. Isto é como é porque somos humanos e portanto limitados, defeituosos e imperfeitos."

** Parágrafos extraídos da introdução ao livro "The Spirituality of Imperfection" de Ernest Kurtz e Katherine Ketcham, publicado nos EUA pela Bantam Books em 1992, copyrighted material. Tradução feita por um grande amigo meu, um grande ser humano a quem tive a oportunidade de conhecê-lo. A obra não está traduzida para o português, infelizmente... 

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