Deus e Filosofia



No senso comum, costuma-se acreditar que o filósofo é contra Deus. De uma certa maneira, pensam que, associar a filosofia ao ateísmo é quase uma obviedade no seu cotidiano. O interessante é que, não há e não houve em nenhum campo do conhecimento, que tenha falado mais de Deus e que tenha se esforçado tanto para demonstrar sua existência, quanto a filosofia.

Costuma-se dizer também, que a crença num Deus ou a fé, são incompatíveis com a razão.

Curiosamente, são os filósofos ditos racionalistas, como Descartes e Kant (e vários outros), os que mais se dedicaram e se empenharam para falarem de Deus, para posicionar Deus em relação a nós e sobre tudo, para destacar a importância desse conceito.

Reflexão sobre a terceira meditação da metafísica de Descartes → "Se Deus é perfeito, Ele tem que existir. Porque se Ele não existisse ficaria faltando alguma coisa para Ele ser perfeito."

Ou seja, eu penso em Deus. Deus é perfeito. Eu sou imperfeito. Eu não poderia pensar em Deus! Porque se eu sou imperfeito, tudo que eu penso é contaminado de imperfeição. Portanto, Deus é Aquele que permite que eu pense o perfeito, mesmo sendo imperfeito.

E Deus nesse contexto atual de pandemia?

Para ser Deus, eu não teria e não posso ter condições de responder totalmente quem é Deus.

Porque Deus é sempre mistério. Sempre há um passo a mais e além de tudo que eu consiga dizer sobre Ele ou sobre Ela. Deus escapa.

Deus é indomesticável, Deus é indefinível, Deus está naquele silêncio diante do absurdo.

Porque talvez, Deus seja o absurdo. Se existe algo que eu possa dizer a respeito desse mistério, sobre esse silêncio, se existe algum conteúdo nesse vazio, é o amor encarnado.

Deus é a fonte originária de todo amor. A morada de Deus na terra é onde o amor se manifesta e se materializa.

Portanto, não é uma doutrina e não é um dogma. Nem menor ou restrito à uma experiência religiosa. Se existe alguma voz nesse silêncio, é quando o amor encarnado e materializado, se faz no mundo. Eu só posso dizer isso.

Além disso, eu não sei o que dizer.

Eu creio, quase não crendo, mas não conseguindo deixar de crer. Isto não é só retórica, é verdade.

Eu sou indignado com as injustiças no mundo… E me dá vontade de gritar com Deus quando eu penso que enquanto estamos em casa de quarentena, existe o estômago de uma criança a ressonar por fome nesse mundo. No atual contexto em que vivemos, existem milhares de famílias a chorar pela repentina perda de entes queridos.

Isto me dá raiva. E eu pergunto, aonde tu estás Deus? Qual a tua autoridade em se dizer Deus, se o mundo produz isso?

Eu creio com raiva.

Isto não poderia acontecer. Nem a prevalência dos poderosos e nem as aleatoriedades que a vida nos impõe.

Portanto, para mim, Deus não é o controlador do mundo, se não ele é mau.

Deus é o silêncio.

Deus é a criança de três anos e a lágrima da mãe.

Só creio em Deus, porque creio que Ele morre junto com a humanidade.

Todo poderoso para mim não faz sentido.

O que faz sentido para mim é:

TODO AMOR!

TODO FRÁGIL!

Demasiadamente humano connosco.

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